domingo, 5 de setembro de 2010

DeScAbElAdOs


O telefone toca, e os olhos ainda avermelhados pelo sono não vencido, rapidamente são queimados com a claridade do sol na procura do aparelho causador de todo distúrbio. Na outra linha o destino vem dificultar aquilo que deveria durar mais do que um instante. Não é só pensamento, são sentimentos, são corpos, são momentos irreproduzíveis.
Mais do que um abraço, é você dividindo uma parte da sua existência com a minha. É a cumplicidade de palavras simples desaguando sinceridade que escapa pelos olhos lacrimais ou pelo doce toque de dedos. Incalculável é o valor dessas situações, sejam elas retirando três pelos de uma pinta ou colocando e jogando travesseiros para fora da cama (nossa guerra noturna). Afazeres compartilhados numa mescla de paixão inicial, arte e (Benditos Cartões de Crédito). Seria isso outra aventura a me frustrar?
Não sei responder tal questão, só posso dizer que estou a fim de correr o risco. Ao menos já temos um acordo firmado e, com certeza, vejo a verdade em você. Dá até vontade de dizer para mamãe: olha o que eu quero ter quando eu crescer – um ∞ - mas fazer isso poderia tornar-te um objeto eu não quero abusar assim da minha sorte.
Não preciso ter, preciso estar. Estar junto, viver essas coisas como tem ocorrido e que tão facilmente é atrapalhada pelos 100 km que me separam carnalmente de uma rotina.
Assim eu estava pensando enquanto você despertava para cumprir com as ordens impostas pelo destino. De nada adiantou a ligação para mãe e o banho se tornou inevitável. Tudo ocorre tão rápido e preciso que até da à impressão de ter esquecido algo, e de fato esqueceu, esqueceu de me dar um beijo mais, um carinho mais, é a dívida que fica sempre a ser paga no mais uma vez (dias ansiosos a espera de um reencontro, uma novidade, uma loucura mais).
De todas as coisas ditas a que mais me tocou foi a clareza com que você desvendou o segredo de muitos relacionamentos. Parece que tudo e todos começam pelo corpo e pelo sexo, quando eu todo pirracento comecei pelo medo e pela curiosidade das suas miudezas (pintas, cheiros, sonhos, signo). Talvez por isso também eu te goste tanto, você me dá chances de ser eu mesmo sem me cobrar banalidades, afinal de contas não penso que sejamos caretas em querer que um beijo tenha significado, assim mesmo como o sexo. Nada precisa ser apressado, pois não vai para um livro de histórias e sim para a memória.
Quanto mais lentamente tudo é saboreado, mais forte e sólida é, ou pode ser nossa amizade. Uma construção que exigirá esforço de ambos os lados dadas às dificuldades que o mundo apresenta, mas que pode em muito ser recompensada por algo que jamais vi comparável em valor: um gostar puro, simples e sincero.
Deste modo partiu seu ônibus retornando você a teu mundo cotidiano tendo ficado eu descabelado pela vontade teimosa de que você ficasse um pouquinho mais... Não há melhor modo do que terminar o dia com essas lembranças enquanto leio o mito de “Idas e Marpessa”, sobre o qual talvez eu comente outro dia. [Não quero ser um Apolo em sua vida, quando o que bastaria é ser apenas o que preciso ser, um Idas, ou no meu caso: Eu mesmo!]

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