segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Liame

Existe um mundo fora dessas janelas, por entre as grades e telas um pouco de natureza. Pessoas que passam sons e cheiros.
Fora dessas janelas há: vidas, histórias, perigos, mas não são somente janelas onde me escondo, são por elas também que me abro. Janelas de um mundo lá e outro aqui dentro. Simples janelas que resignifico. Assim são elas, assim sou eu.
E sigo.
Já elas,
ficam.
...
Há um silêncio na madrugada que denuncia a insolidez do mundo.
Por todos os lados sem brisa, insetos, pessoas ou fenômenos da natureza.
Simplesmente o silêncio como se cada molécula atômica deixasse de existir. E por um momento rápido a impermanência das coisas perde a importância.
Anestesiado extasiado por sonhos contemplamos outra dimensão das coisas. Uma falsa realidade da matéria, nosso eterno ponto limítrofe. Quando somos não podemos deixar de ser e quando não somos, simplesmente não podemos ao mínimo nos dar ao luxo de paradoxalmente não termos sido.
Um aprisionamento, uma existência no silencio da madrugada. Por um estante apenas... des/existência.
Fico eu com rosto pesado sobre a tela de minha janela em devaneio enxergando sem olhos, cegando a vida, inebriando a sensatez. Subvertendo.
...
Imagine subverter a razão trocando de lado consciente com inconsciente, viver sonhando e sonhar como quando acordando. Toda significação de vida não passariam de símbolos indecifrados, uma linguagem surrealista de encontro consigo mesmo. Impulsos, desejos, possibilidades divisíveis. A libertação de um ser que não sou eu, ou talvez seja mais eu do que eu mesmo saberia dizer. Quem sou? O que sou? O que significa tudo isso?
Um pouco de mim dentro desse apartamento tentando olhar pelos quartos, sala, banheiro ou área de serviço o que tem aqui dentro e o que tem lá fora. Janelas amplas, pequenas em cada uma um novo ângulo, um novo mundo.
Emparelhamento dos devaneios
Sem freios o que será que sou?
O que sou?
Sou?
Solidão barulhenta dos muitos eus que gritam nesse apartamento, grudado na janela e voando longe para dentro de mim...
Vou embora
Algo fica
O que será que volta?