Traças pela casa
Nem sei a quanto tempo não limpo minha casa. As teias de aranha, as traças, a poeira e a terra vermelha, branca e preta dominaram todos os cantos.
Não vejo um lugar seguro onde as roupas possam ficar limpas ou os pratos e todas essas coisas que fazem duma casa um lar, possa readquirir sua decência. Minha residência está mais para um chiqueiro, sem querer chamar de lixão ou lugar sem dono, do que qualquer outra coisa.
Se a casa reflete seu dono, acho que deveria me preocupar mais com minha saúde. Talvez meus problemas sejam maiores do que a falta de dinheiro ou o cabelo que de liso, crespo está cada dia mais cacheado e arrebentado.
Estou desnorteado sem saber o que desejo. Mais silêncio ou mais barulho; pessoas ou namorados; ações práticas ou reações teóricas; viver ou voltar à vida?
Mesmo meu telefone que não tocava mais, tenta agora dar sinais de luta ecoando o som da saudade e da distância. Enquanto aqui chove, ai faz um pouco de frio. Sua voz e a forma como as palavras brincam em seus lábios, fazem cócegas em meus ouvidos que se riem e desejam ainda mais estar bem perto a ti.
Filmes velhos na tela quente, acompanhados de um chá solitário, que na verdade teimam em distrair-se com pensamentos abraçados a sua lembrança.
Brincar de falso amor é tão divertido quanto inventar relacionamentos e sorrir sinicamente diante das palavras de um blog fantasma. Talvez seja esse o motivo desta casa estar nesse estado, eu morri e virei fantasma.
Se foi isso que aconteceu, fico muito triste pelas possibilidades que serão negadas. Negadas a um novo amor de encontrar seu amado ideal; negadas a crianças de terem um educador; de terem amigos um ombro distinto; de terem as plantas e animais uma boca que os vá devorar.
Pensando assim até parece que sou muito importante. Para as traças talvez eu seja mesmo, afinal representarei a morte de muitas delas, como também serei aquele que sozinho com elas conversa.
Acho que é hora de me empenhar em uma faxina. Sabe-se lá quando uma visita pode aparecer. Um bom começo pode ser por concluir velhos trabalhos, organizar pendências da vida passada e retrabalhar os projetos futuros.
Por isso mesmo vou buscando meu isqueiro, bolando um grande cigarro de Dostoiévski em “O Idiota”. Como bom homo-literatus viciado no niilismo e pessimismo sadio da mudança destrutiva de um melancólico criativo. Quanta informação para dizer absolutamente nada. A arte da embromação é o que o Renan é.
Espero-te aqui em casa ímpeto criativo e menino camaleão... C212 eternizado, apreenda-me o quanto antes.
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