quarta-feira, 18 de junho de 2008

Colcha de retalhos

Responder ou não as questões da nossa vida são questões efêmeras. Compreender o que é o tempo, os acidentes e as gargalhadas no fundo a própria história são uma invenção etérea e se desfaz. Seria igual a um tricô feito pela manha e desmanchado na noite densa.
Pois bem, eu comecei minha costura em 27 de outubro de 1986 por volta das 11:30. O horário de verão interfere um pouco nessas questões. De lá para cá ganhei, roubei e achei retalhos pela estrada. Cada um e cada qual somados a colcha que costuro.
Infância, adolescência e agora um sei lá o que, todo costuradinho. Quer dizer, as vezes uma linha enrosca, outra arrebenta, entretanto tudo faz parte da magia. Onde o olhar para colcha significa recordar.
Recordar e sentir, e depois saber porque vivo com vivo hoje. Uma mistura louca de mineirisses paulistana, de humildade e arrogância, de paixão e carência, de etcs e pontos finais.
De vez em quando minha mão cansa fazendo-me hibernar alguns meses. Mais tarde, descansado eu retorno com toda intensidade aos meus trabalhos. Nesse instante tem feito um pouco de frio e eu estou distante das pessoas que gostaria poder rever. Poderia aproveitar o tamanho de minha colcha para cobrir várias pessoas, conforme o frio aumente, cada um com as suas, poderíamos ampliar o conforto.
Esqueci minha bagagem além de estar com medo de passar frio. Assim mesmo eu vou continuar até chegar na Rússia.
Opa, um minutinho. Acabou a linha eu vou buscar mais...

“O tempo é um fio”
Henriqueta Lisboa

O tempo é um fio
bastante frágil
Um fio fino
que à toa escapa.

O tempo é um fio
Tecei! Tecei!
rendas de bilro
com gentileza.
Com mais empenho
façanhas espessas.
Malhas e redes
Com mais astúcia.

O tempo é um fio
que vale muito

Franças espessas
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes

O tempo é um fio
por entre os dedos
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.

Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa!

Mas ainda é tempo!

Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
dormi nas moitas,
voltai com o tempo
que já se foi!

Um comentário:

Karina Tamaki Kobayashi disse...

euu, quero um pedaço dessa colcha pra me esquentar meu mundo monocromativo...
o frio deixa com frio até mesmo as cores de alguns mundos.
*.*

=**