segunda-feira, 20 de abril de 2009

Capítulo I - Existencialismo e o meu cu

Capitulo I (Eu teórico)

Não consigo definir claramente em que se baseiam minhas posições teóricas e filosóficas. Talvez por isso mesmo eu não consiga ser sempre coerente com aquilo que não identifiquei ainda. Sendo assim, tentarei vomitar um pouquinho como eu penso as coisas.
Sou radicalmente oposto as ciências exatas clássicas e qualquer pretensão a uma verdade absoluta é extremamente ridícula a minha imaginação. Simplesmente não é possível afirmar nada, qualquer certeza é sempre uma nova dúvida.
Estou acostumado a desconfiar de tudo, até mesmo da desconfiança. Estou viciado na dialética e no ceticismo e ainda sim quero me libertar de tudo. Filho da pós-modernidade anseio em vestir sua roupa e poder desfrutar de um desprendimento superior ao Cristão/Platônico.
Para mim, tudo é imaginação. Nós inventamos o mundo, o que vemos o que sentimos o que sabemos e o que não sabemos... Pensar em si constitui um mundo próprio e limitado. A materialidade, a objetividade e tudo que está para além do que eu penso, do que é independente da imaginação não pode ser apreendido. Portanto nos é desprezível e incompreensível o real absoluto.
Sobre a objetividade eu reservei tudo àquilo que ultrapassa as explicações captadas pelos nossos sentidos. Seria onde para uns localiza-se Deus, para outros seria a essência, etc. Eu nem me preocupo, já que é algo inatingível e completamente desnecessário. O que eu sou e o motivo que me faz existir estariam presentes na dimensão desse campo objetivo, funcionando como um instrumento inicial de uma máquina possibilitadora do mundo em que definitivamente vivemos: o da imaginação.
É nesse mundo em que tudo acontece. É nele que nos movemos, criamos teorias, verdades fazendo acontecer o que acreditamos ser objetivo. Alguns desejam a segurança da verdade e por isso desejam acreditar em sistemas lógicos como se eles fossem à ordem do universo.
Se pensarmos na religião ela tem sentido para quem está dentro dela e deseja crer em tudo o que ela e seu sistema de pensamento podem compreender, mas não para além disso. Já a ciência inventa novas verdades e formas de se pensar o mundo, mesmo assim não consegue representar o real. Deste modo, sempre que tentamos falar da realidade estamos falando de algo construído subjetivamente e por sua natureza preso a subjetividade.
Até mesmo a literatura já nos deu exemplos desse pesadelo niilista, no qual um homem acorda e não sabe se ele é real ou se pertence à imaginação de outro e de outro sucessivamente. No entanto dizer que tudo é imaginação não significa destruir um motivo de existência ou buscar a dês-essência.
Mesmo a esse mundo imaginado existem regras criadas que o regem. Se por um lado não podemos ter certeza de nada, nem mesmo se o que acreditamos é ou não um sonho, ao menos podemos manipular esse mundo de “sonhos”.
Isso é o que fazem todas pessoas no dia-a-dia em qualquer ação. Tanto pessoas normais, quanto as ditas loucas, como qualquer pessoa que pense conforme eu posso pensar.
Na verdade eu mesmo não posso me libertar dessa prisão e acreditar de fato que tudo o que vejo e ocorre não é uma imaginação ou sonho. Que a reação das pessoas, seres e não seres que leriam essas “coisas” seriam parte desse mundo imaginado.
Talvez essa crise tão grande de incerteza e relatividade na qual eu mergulhei sejam frutos de uma busca incessante pela essência, por uma verdade absoluta frustrada no decorrer do meu caminho intelectual.
Eu vivo o mundo, eu o manipulo jogando conforme suas regras no limite do que uns chamariam de sanidade, mas gostaria de extravasá-lo algumas vezes. De poder me surpreender com algo impossível, de compreender as coisas sem ambigüidade, dualidade (por que tudo tem de ser e também não ser ao mesmo tempo?) etc.
Poderia ser mais fácil me domar e acreditar numa dessas verdades vendidas pelas ruas como as de um messias, ou dos cálculos perfeitos, ou mesmo de um controle da mente que me liberte do Matrix (mundo ilusório) e me faça dobrar colheres, flutuar sobre as águas descobrindo do que é feito o feito.
Talvez eu tenha me enganado quando disse que eu sou incoerente, afinal minha perspectiva sobre as coisas possibilita isso dentro desse campo de dialética. São tantas dúvidas para nenhuma resposta. Quem sabe eu estaria menos triste se me fosse possível estar inebriado pelo amor.
Essa é outra forma de distanciar a cabeça e voltar aos sentimentos, outra parte desse todo imaginado. Se as pessoas ou qualquer coisa existem de fato para além de mim, da minha imaginação e se eu mesmo existo nessa bagunça toda, os sentimentos e qualquer outra coisa seriam algo igual a todos?
Nos inventamos tantas classificações para as coisas querendo atingir a compreensão do outro e até hoje não encontrei uma leitura que me desse essa certeza dogmática. No entanto, ficar preso a essas teorias relativistas são sufocantes para o espírito. Eu não sei nada de mim ou dos outros e mesmo o que pretendo saber eu dialeticamente não sei quando sei.
Enfim, quando estava cansado de mais de me deprimir em querer algo mais das coisas eu desisti e voltei às velhas práticas.
Que práticas vocês poderiam me perguntar, eu lhes digo: Você escolhe um norte ou uma teoria, ou ainda se desejar pode seguir como um camaleão mudando as formas conforme as circunstâncias. O importante é seguir nortes que direcionem ações de existência, e dessa forma transformar as coisas de acordo com seu plano. Isso no que diz respeito à vida e a imaginação.
Você pode desejar não viver e não mais existir, como também jamais ter existido, tentando quantos planos for necessário até conseguir objetivar. Embora eu não saiba se as finalidades podem sempre ser atingidas, como eu mesmo querendo escapar ao mundo imaginado tento. Na verdade eu nem sei para que e o porquê dessas questões!
O que queria era estar além dessas questões existenciais, estar além da dialética, estar além das minhas verdades próprias que se configuram como incerteza. De estar além da minha capacidade de sonhar coisas, para atingir o impossível.
Meu desejo megalomaníaco, egoísta e arrogante de sanar as frustrações adolescentes pelo saber de um desejo que nasce em mim e pode ao mesmo tempo em que também não pode ser explicado.
Eu quero o tudo, eu sinto algo como se fosse o todo ao mesmo tempo em que parece que tudo isso é a representação real do nada. Do absoluto abstrato presente na contradição do mundo em si visto por mim.


Indicação de filme ilustrando tempestades, questões e não-respostas. Bons devaneios aos aflitos expectadores fictícios.

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