domingo, 30 de junho de 2024

Caso perdido - Derrota


Parece existir um ciclo em que a cada 10 anos eu mesmo consigo me fazer de tolo. Isso me destrói todas as vezes, mas eu nunca aprendo. Me destrói em várias partes e sempre tenho uma parte a menos no final do processo. Mais uma vez me sentindo usado, me sentindo um lixo descartável, me sentindo desproporcionalmente valorizado, para menos, é claro! Como se não pudesse ser capaz como as outras pessoas de vivenciar algo verdadeiro. Como se eu não pudesse encontrar aquilo idealizado, nem ter um sonho minimamente concretizado.

São sempre lágrimas silenciosas, lágrimas solitárias, palavras sem interlocutores. Eu não aguento mais me dividir. Sei que em algum momento sobrará - nada. Em algum momento a morte voltará a ser um descanso e não uma penitência como é hoje. Vou parar de temer ela, e isto não será bom, só indicará que dói mais estar vivo do que morto, que as experiências da vida se tornaram insignificância. Que os motivos que me faziam querer que ela demorasse, já não estão lá.

Sempre me culpando. Sempre me desamando. Sempre eu comigo mesmo em um mundo de jogos, segredos, manipulações, sentimentos voláteis e pessoas líquidas escapando pelos dedos. É tão difícil assim sonhar com pouco e, mesmo assim não chegar a nada.

Tudo bem, é culpa minha. Deveria ter entendido melhor que deixar meu corpo sentir livremente, escolher e agir cegamente só poderia me fazer sofrer. A ambiguidade dava um tempero a mais ao paradoxo complicado que me estrangula os sentimentos e o futuro. O paradoxo de escolhas destrutivas, em meio a isso o mundo até poderia ter inúmeros possíveis, mas a realidade é brutal. Tanto quanto lutar pela sobrevivência, por aqueles que amamos e dependem de nós, por nossas responsabilidades, compromissos, por nós mesmos e um novo dia, se torna uma perda de tempo. Um tempo que não volta e cobra caro em cicatrizes. É absurdamente inaceitável que alguém consiga aniquilar a capacidade de sonhar da outra. Me sinto violentado dia a dia pela vida. Como uma criança suja em uma calçada, abandonada e negligenciada pela sociedade, me foi tirado todos possíveis vir a ser. Futuros negados. Sonhos e a inocência, roubados de mim o brilho nos olhos. Queria tanto esse brilho novamente (isentos da maldade dos outros).
Queria tanto não chorar mais em ruas repetidas, por pessoas semelhantes. Queria deixar de ser eu para poder ser alguém, assim como os outros, que tem seu encaixe no mundo, seu encaixe nas pessoas e consigam ser alguém. Pelo menos, parte daquilo que sonharam.

Nunca ignore suas intuições, vindo de uma linhagem de bruxos naturais, já era de se esperar que aquilo que os olhos fechados veem, trazem em si muitas verdades omissas. É o silêncio.

SILÊNCIO IMENSO,

pesado, um concreto, 

um prédio gigante por cima de mim espremido. Pela dor de saber dos seus outros possíveis.

Queria não ser teu refém. Queria saber gostar pouco. Queria que fosse numa medida em que o destino fizesse bem para ambos da forma como ambos em seus sonhos merecessem viver. A angústia cresce, tanto quanto ansiedade, desilusão, desencantamento e abuso. E mesmo assim nada importa, eu sou sempre seu refém. Salve-me de você mesmo. Me liberte de alguma forma ou me assuma como teu escravo, me de dignidade. Como posso seguir o caminho inverso do Pequeno Príncipe? Como deixar que o Afeto desapareça sem que para isso eu precise ter Alzheimer?  Se ao menos a distância diminuísse o que sinto. Se pelo menos você tivesse simplesmente feito o que eu esperava de você: indiferença, desmerecimento, repulsa, nojo, raiva que afasta, etc... talvez os sonhos em que sou humilhado não sejam somente sonhos. São meus sentimentos gritando para mim, implorando que lute para deixar de ser idiota um dia mais.

Os ciclos se repetem, as dores acumulam e meu tempo se esgota. Preciso ir embora, tanto quanto eu precisava de um amigo que não posso ter. Alguém que me visse a beira do abismo e soubesse como não me deixar cair, mesmo que para isso a solução fosse algo difícil de se imaginar exigindo mais criatividade do que poderíamos aceitar.

Eu queria nunca ter existido, mesmo apreciando cada toque, cada abraço, cada beijo, o afeto limitado. O uso feito da minha pele exclusiva. Do tempo em que eu existi na sua vida. Conforme as pessoas se afastam eu me lembro delas, mas para elas eu vou sumindo até que não reste nada, assim como é para mim, me dividindo a cada entrega, para elas cada ano que passa eu desapareço de suas lembranças e sentimentos, me tornando novamente um nada. Não para de doer, mas vou ter de me acostumar, a dor não vai passar, só vai ficar junto com as outras, pesando em minhas costas, meu passado, meus sonhos negados.

O calor, a pressão, o cheiro, a forma como cada abraço, cada toque, cada tudo ocorria. Lembranças preciosas guardadas a chave de ouro, minha vida e minha morte. Meu auge e meu fim. Queria dar adeus a mim, queria pedir desculpas a mim mesmo, por não poder ser dois que simultaneamente nos amparamos. Não queria um espelho, só queria poder sonhar ou acreditar que meus sonhos se realizariam caso eu fosse um bom menino e tinha alguém ponta firma para tudo que fosse preciso.

De que adianta tudo isso. Está tudo perdido sempre.

Dói de mais pensar, só quero existir, mas existindo eu me machuco e aumento mais ainda essa dor. Odeio ser somente um peão no seu tabuleiro de xadrez. Me descarte e passe por cima, como peça extraviada que o destino obriga ser, me destrua. Aguardarei o próximo ciclo de 10 anos, esperando que a próxima humilhação acabe de vez com aquilo, que nunca deveria ter sido... eu mesmo. Amém!

Para te usar tem muita gente;

Para você usar, sei que teria alguns em mente.

Amar talvez seja ainda muito complicado e quem te ama, o faz errado...

Passaram-se mais algumas horas e meus olhos estão inchandos de tanto engolir choro. Como dói não poder nem mesmo te pedir ajuda neste caso. Não para de doer repetidamente. Até sonhei que "fulAno" dizia que era melhor para todo mundo você estar morto. Após te usar e te descartar ele te deu veneno e me falou. Sai correndo, mas era tarde demais, mesmo sabendo que você me machucava e ia machucar ainda mais, a dor de não ter te salvado me levou junto. EU QUERO PARAR DE SENTIR,

FAZ PARAR DE DOER.

FAZ PARAR.

Acho que preferia ter me arrependido do que fiz e não do que deixei de fazer. De sonhar com um calor que ultrapassou os abraços, de saber a forma como sua boca se move e se entrega em beijo. De saber o que se oculta no seu prazer. Cumprir os sonhos que furaram a bolha do permitido e desvendar o veludo da bunda, a baba do pau, as cócegas tornadas em carinho erótico. Queria ter tido essa entrega, tanto quanto esperava que alguém soubesse um dia me dar de volta um pouco da intensidade que sinto e dou para elas. Mas não queria ter tantos ciúmes, não queria sonhar com uma vida impossível, queria ter encontrado uma outra pessoa que não fosse você, só para te poupar de mim.

Eu gosto tanto e queria tanto poder sustentar o que temos, mas como posso ser um amigo verdadeiro se o que desejo está além do limite? Será que depois do limite eu conseguiria finalmente valer a pena para que você pudesse ser verdadeiro comigo, confiando em mim? Por que as coisas são sempre iguais, será que estou sempre aprendendo a repetir os mesmos erros de formas diferentes? Quero sua felicidade, mas acredito que ela esteja em você se afastar de mim.

Por que é que eu não consigo ser bom o bastante em nada que eu faço? Por que não consigo fazer nada direito? As coisas nunca dão certo, mesmo sendo maravilhosas. Já faz tanto tempo que escrevo sobre as mesmas coisas em intensidades diferentes por aqui. Tudo é sempre igual e meu amor parece não pertencer a este mundo.

Não para de ecoar dentro de mim: 

Perdão.

                Perdão. 

                                 Perdão.

                                                  Mas para quem é esse som?

Amor e tristeza andam juntos, queria conseguir esconder tudo dentro de mim e ir aproveitando os pequenos presentes que ganho no desenrolar dos dias, mas não gosto de continuar me sentindo alguém usado. Só que não acho que possa sonhar algo a mais do que isso. Alguém que as pessoas recorrem para fugir do tédio, para escutá-las ou consolá-las quando elas querem. Retiro de mim minhas vontades e cumpro aquelas daqueles que recorrem a mim. ISTO quer ser útil já que não pode ser adequadamente amado. Eu luto pelas pessoas, mas nunca percebo ninguém lutando da mesma forma por mim, nem eu mesmo.

Sou ridículo, já posso escrever um romance sobre mim. Algo próximo do Idiota de Dostoievski, quem sabe talvez... não sei. Diriam que é muito drama, mas esse drama todo me dilacera por dentro, eu não sei mais o que fazer. Não sei como viver. Me sinto travado pelos meus erros. Antes eu deixava o fluxo de um rio me levar sem fazer escolhas e agora eu só tento me afogar.

Não quero a vida que tenho, não tenho esperanças em vidas futuras, e mesmo assim preciso esperar pelo acaso. Preciso estar apático e me sinto mal por ter pessoas a minha volta que vão se importar por um tempo com isso. Eu quero sumir e assim essas pessoas podem me esquecer logo e não participar mais destes dramas. Eu não paro de errar. Eu não consigo me expressar e estou assim, maluco. Ora consigo me manter bem outras estouro, mas sempre... tanto faz, eu desisto. Me entrego a minha imperfeição, me entrego ao buraco da minha vida e espero que essas palavras levem para o ralo toda força que restava em mim de fazer algo. Só quero deixar de sentir, ter vontades, me tornar um robô que faz o que tem de fazer. Me perdoe, não quero ser nada... eu nem sei o que estou escrevendo. Vou parar de falar besteiras, me perdoe.

Me perdoe!



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