Mora em mim um demônio.
Aquele que tudo quer
tudo pode e para tal arrasa cidades, faz da vida o impossível estando limitado
apenas pela proximidade da morte. Sempre insatisfeito e insaciado torna a vida
pedante, um teatro de falsidades sem fim. Porém, não me oferte sossego, essa
tempestade não pode ou deve ser detida.
Quero aproveitar tudo o que o caos possa me trazer.
Enregelando o espírito deito-me lentamente sobre lençóis mudos.
Descobrindo corpos em seus tesouros, cores, aromas, gemidos, sabores. A arte
corporal do ser, compartilhado. Usos do prazer,
modos de se fazer,
e como ser,
se mesclam
indistintamente ao paladar sem refinamento presente em minha luxuria.
Pequenos espíritos que procuravam ser o que não eram, ou
talvez de tanto se enganar já houvessem transformado no que anteriormente não
poderiam ser. Todos escravizados por esse demônio inventado, meu soberano EU.
Mata-me.
Sufoca-me.
Faça-me ou faço-me algo já.
Consciência circular, presa aos ciclos desse previsível acaso
perverso.
Não mais palavras, apenas imagens e pedaços de mim.